A QUESTÃO CULTURAL EM RIBEIRÃO PRETO


Jeferson Gonzalez*


Com o término da 8ª da Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, fecha-se o primeiro semestre de 2008 como um período de intensas atividades culturais na cidade, que contou também com a realização do evento “Virada Cultural” (17/18 de maio). Certamente, fica um gostinho de quero-mais na boca daqueles que puderam desfrutar desses espaços de aprendizagem, diversão e lazer. No entanto, passado esses eventos, é necessário dizer que nem tudo são flores e discutir sobre a questão cultural tendo em vista o acesso à cultura pelas camadas populares que se encontram em sua maioria nas regiões periféricas, enquanto os eventos citados são realizados na região central da cidade.

Podemos iniciar a discussão considerando a cultura em seu conceito amplo de produção humana, ou seja, fruto do processo pelo qual o homem se apropria da natureza, transformando-a em objeto de sua ação. Enquanto expressão humana e refletindo as relações sociais, a cultura possui uma forte determinação política, não podendo ser compreendida fora de seu posicionamento de classe e de seu caráter ideológico. Nesse sentido, a questão cultural em Ribeirão Preto dever ser compreendida a partir do movimento concreto que rege a sociedade em geral sob a égide do capitalismo.

Acontece que os bens culturais produzidos histórica e coletivamente pelo conjunto da humanidade, na sociedade dividida em classes sociais com interesses opostos, são apropriados e privatizados em sua totalidade pela classe dominante, que repassam às camadas populares somente o necessário para que elas continuem reproduzindo o capital. Contudo, esse processo não se dá de forma mecânica, livre de contradições, o que nos possibilita pensar e agir no sentido de sua transformação, que se realiza na luta política cotidiana, entendida, assim, para além da questão eleitoral, no sentido da construção de um projeto de sociedade pautado no interesse das camadas populares da sociedade.

Compreendemos que uma iniciativa nessa direção é garantir o acesso pelos indivíduos das camadas populares às atividades culturais realizadas na cidade, descentralizando a realização dos eventos num primeiro momento e incentivado a organização de centros de cultura que comportariam grupos de estudo, teatro, música e demais atividades de interesse dos habitantes da periferia ribeirãopretana. Somando-se, por fim, o trabalho contínuo de formação política e empoderamento das camadas populares no sentido da construção de uma nova organização social, na qual não impere as relações de dominação e exploração, por conseguinte, uma sociedade justa e igualitária.


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*Jeferson Gonzalez é pedagogo formado pela FFCLRP/USP; professor de Educação Infantil na rede municipal de Jardinópolis/SP; militante da base de professores do PCB em Ribeirão Preto. Contato: jefersonag@yahoo.com.br