Gueto de Gaza...

A criminosa omissão do governo brasileiro diante do holocausto palestino
(Ivan Pinheiro*)
O Presidente Lula e Dona Marisa continuam curtindo as bucólicas praias privativas da Marinha brasileira. Saíram há dias de Fernando de Noronha e, neste momento, estão no paradisíaco litoral baiano, perto de onde passaram alguns dias o Presidente Sarkosy e Carla Bruni, a nova primeira dama francesa.

Apesar do perfil de revista Caras (um playboy e uma modelo), o romântico casal francês terminou cedo suas férias. Anteontem, Sarkozy estava em Ramallah, território palestino da Cisjordânia, em reunião com Mahmoud Abbas, o Presidente da Autoridade Nacional Palestina. Nos últimos dias, passou pela Síria, por Israel, pelo Líbano e o Egito. Largou o calção de banho e sua camisa listrada e saiu por aí, roubando a cena, num quadro mundial em que prevalece o silêncio cúmplice dos governos frente à chacina que promove Israel na Faixa de Gaza. Sarkozy está capitalizando, para si e para os interesses imperialistas que representa, uma paz de cemitério, para legitimar a progressiva ocupação israelense dos territórios palestinos. Israel morde e ele assopra.

Enquanto Hugo Chávez tenta corajosamente uma contra-ofensiva mundial em solidariedade à Palestina, Lula só volta da praia no dia 12! Quinze Ministros aproveitaram a ausência do chefe para esticar o feriadão. O governo entrou em férias coletivas, deixando uma equipe de plantão.

É lamentável que tenham ficado apenas na retórica as declarações de Lula, na emoção do réveillon, quando criticou corretamente a ONU por se render ao veto unilateral dos Estados Unidos, apesar de só ter reclamado do "exagero" da reação israelense, como se fosse possível pedir ao leão que seja razoável ao atacar seus rivais na floresta.

Imaginem o peso político que poderia jogar o Brasil, num cenário em que só uma ampla pressão mundial é capaz de deter a mortífera máquina de guerra imperialista israelense, que fez do Gueto de Gaza um imenso Carandiru (**), onde as tropas que vigiavam os presos resolveram entrar atirando.

Ontem chegou a cem o número de crianças assassinadas.

É para isso que Lula sonha com uma cadeira para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU? Ou será que esta criminosa omissão é o preço de um prêmio por bom comportamento?

* Ivan Pinheiro é Secretário Geral do PCB.
** Carandiru – penitenciária brasileira desativada, em que a polícia acabou com uma rebelião matando centenas de presos.

Militantes Espancados

Por ordem da ANP (*), militantes são espancados e presos durante manifestação no Rio contra leilão do petróleo




Cerca de 50 feridos e três pessoas detidas. Esse é o saldo – até agora computado - deixado pela violenta reação da Polícia Militar do Rio de Janeiro e da Guarda Municipal, durante uma manifestação pacífica, por volta de meio dia, nesta quinta, 18, na Avenida Rio Branco, em protesto contra a 10ª Rodada de Licitação do Petróleo.

Depois de receberem uma ordem de despejo para desocupar o Edifício Sede da Petrobrás, no Rio, os manifestantes – cerca de 500 pessoas - dirigiram-se para a Candelária, que fica perto da Agência Nacional do Petróleo (ANP), responsável pela realização dos leilões das áreas petrolíferas. Em seguida, a manifestação prosseguiu pela Avenida Rio Branco, em direção à Cinelândia.

A violenta reação da Polícia Militar e da Guarda Municipal surpreendeu os manifestantes que foram espancados durante toda a caminhada pela Avenida Rio Branco. Até agora os organizadores da manifestação, convocada pelo Fórum Nacional contra a Privatização do Petróleo e Gás, que reúne dezenas de entidades, confirmam a detenção de três pessoas: Emanuel Cancella, coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ); Gualberto Tinoco (Piteu), da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas): Thiago Lúcio Costa, estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cecília, de Santos. Dentre os feridos, está hospitalizado, com um corte na cabeça, no Souza Aguiar, o diretor do Sindipetro-RJ Eduardo Henrique Soares da Costa. Um militante do MST quebrou o braço, ao ser espancado pela PM. As entidades que compõem o Fórum ainda estão fazendo o levantamento do número de feridos e estão tentando localizá-los. Muitos ainda não foram encontrados.

Desde a ordem de despejo, vinda da presidência da Petrobrás, ontem à noite, os manifestantes sentiram a animosidade das forças de repressão, mas não esperavam ação tão agressiva, contra uma simples manifestação de protesto. Um dos detidos, o coordenador do Sindipetro-RJ, Emanuel Cancella, declarou:

"Nós acabamos de viver um momento que remonta à sombria época da ditadura militar. O Capitão Moreira me deu ordem de prisão, mesmo eu dizendo que era advogado. Ele bateu muito em mim. Algemou o Pitel e o estudante e os policiais feriram gravemente nosso companheiro Eduardo Henrique". Emanuel Cancella está com um braço fraturado e costelas. Por de 14 horas estava concluindo o seu depoimento na 1ª DP, na Rua Relação, 42. Logo seria encaminhado para exame de corpo delito. A partir das 14h30, a Rádio Petroleira transmitirá flashes ao vivo.

Participavam da manifestação no Rio, parte de uma jornada de Lutas pela suspensão do leilão do petróleo, iniciada desde o dia 14 – no dia 15, houve a ocupação do Ministério das Minas e Energia, em Brasília, pela Via Campesina e petroleiros – representantes de dezenas de entidades (**) que compõem o Fórum, dentre as quais: Sindipetro-RJ, Sindipetro-Litoral Paulista, MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) , MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados), FIST (Federação Internacionalista dos Sem Teto), FOE (Frente de Oposição de Esquerda da União Nacional dos Estudantes), as centrais sindicais Conlutas, Intersindical e CUT, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), a Frente Nacional dos Petroleiros (FNP), o Centro Estudantil de Santos, movimentos de estudantes secundaristas do Rio de Janeiro. A campanha "O Petróleo Tem que ser nosso" continua.

(*) – A ANP (Agência Nacional de Petróleo), dirigida por Haroldo Lima, Vice-Presidente Nacional do PCdoB, é a agência que promove os leilões das reservas do petróleo brasileiro, em que a Petrobrás tem que disputar áreas com empresas privadas, inclusive multinacionais, pagando caro para pesquisar e explorar o nosso petróleo;
(**) – O PCB (Partido Comunista Brasileiro) e a UJC (União da Juventude Comunista) participaram ativamente das manifestações.


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